terça-feira, 6 de setembro de 2011

O esplendor da manhã não se abre com faca

.
O olhar singelo e inevitavelmente profundo de Manoel de Barros,

o poeta que inventa com a verdade



[Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo.]


Só Dez Por Cento é Mentira traça a (des)biografia da imaginação real do poeta Manoel de Barros. Com riqueza e simplicidade na fotografia, a produção cinematográfica é sensível e profunda no olhar com jogo das palavras. Com os ‘insentidos’, o real e o vão, mostra Manoel na sua humanização das coisas. Na desconstrução do que é humano. No alto azul que desenha brinquedos. No horizonte que vem do chão.

Procurando resignificar as “desimportâncias” biográficas e a personalidade “escalena” de Manoel de Barros, o diretor Pedro Cezar, responsável pelo roteiro e pela narração, pontua o filme com momentos de breves testemunhos ao fundo. Narrado na maior parte das vezes em tom pessoal o filme busca, sobretudo, “uma voz que aproxime-se da simplicidade e da afetividade do personagem.

A produção ganhou diversos prêmios em festivais do Brasil e carrega consigo a poesia instalada, expressa, entoada, fixa e pertubantemente mergulhada na vida do poeta.

As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis
Elas desejam ser olhadas de azul.

Nenhum comentário: