quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sobre a Conferência Cultura Para o Rio Grande Crescer


Para falar da Conferência Estadual de Cultura, dois sentimentos sobressaem em mim. O primeiro é de decepção com a falta de apoio e incentivo da Secretaria de Cultura da minha cidade. E o segundo é de esperança que tudo o que foi falado, discutido e sistematizado em Santa Maria, possa ser, finalmente, concretizado, gradativamente, sem apenas ficar no papel e na memória daqueles que discutiram e/ou que buscam mudanças.

Como explicar que, uma cidade como Pelotas, em que a produção cultural tem crescido e alguns ativistas têm buscado uma unificação de forças para ver o negócio acontecer, obteve uma representação baixíssima, quase unitária em uma conferência importante de encaminhamentos e diálogos relacionados às políticas culturais no Rio Grande do Sul?

Àqueles que não estavam por dentro do processo: Pelotas iria com um ônibus, cedido pela Secult, para levar as matrizes decididas no Diálogos Culturais, pré encontro que funcionou como etapa regional, acontecido na Câmara dos Vereadores, no último dia 23.

E o que aconteceu? Pelotas não foi. Nos 45 do segundo tempo, eu recebo a informação, através de minha própria ilusão em me dirigir ao local combinado para a ida. Sem ônibus. Sem pessoas. Secretaria sem respostas. Acabei arcando com minha viagem, minha hospedagem e presença na Conferência – sem representação pelotense comigo. E aí preciso declarar minha grande insatisfação e repúdio à desorganização e ausência de atenção do governo municipal ao debate da cultura. Lamentável.

Foi revigorante ver companheiros da região sul lá presentes, entretanto, causa um certo desconforto e esmorecimento ver minha cidade – que é tão grande e merece destacar tantas reivindicações a partir de sua atual realidade – ausente nas discussões. Mas ok, eu estava lá e não quero, de forma alguma, desmerecer meu esforço e minha presença. Entretanto, mesmo que eu discorde do ditado de que “uma andorinha não faz verão”, (ela pode fazer sim!) Preciso dizer que, ainda assim, senti falta de pessoas que poderiam estar presentes nessa etapa em que o estado caminha para uma nova visão de enxergar os processos e as potencialidades culturais.

Foi um evento de fôlego, com representações do Conselho Estadual de Cultura, de deputados estaduais, federais, MinC e governo do Estado. E é notório que necessitamos avançar nas políticas públicas – atualmente atrasadas e um tanto estagnadas, mas com anseios de novos caminhos e avanços.

A democratização que envolve princípios de cidadania para uma sociedade que deve buscar um sistema mais justo das manifestações populares, também foi pauta, já no primeiro dia, o que me deixou com os olhos vivos, buscando, no final, um depoimento do Secretário de Estado da Cultura, Assis Brasil, sobretudo a esse tema. Segundo ele, a ação de buscar não limitar o acesso, mas aumentar a participação e consolidar a profunda interação entre sociedade e estado é a forma mais forte de conscientizar a cidadania que traz desenvolvimento. Vamos torcer para que – de fato – nosso governo venha a enxergar as camadas populares como potencialidades culturais e que haja inclusão social e valorização, acima de tudo.

O segundo dia foi marcado por debates e participação de plenárias para a construção da base do Plano Estadual de Cultura com a criação dos Colegiados Setoriais, uma das grandes apostas do evento. A busca por uma relação mais direta com participação maior de entidades e adaptações às diferentes vertentes que a cultura agrega. Além disso, a burocratização e a dificuldade dos processos de editais para a produção cultural, também foi vista como um pedido de cursos de gestão cultural. O que na minha opinião, é de extrema importância, pois falta capacitação para agentes, a partir da realidade de que sobra verba para editais que não são liberados "por causa do amadorismo nas inscriçoes". A burocracia não pode e não deve vencer as ações práticas. Que haja capacitação!

Com tema na Cidadania Cultutal, a coordenadora da Jornada de Literatura de Passo Fundo, Tani Rösing, abordou uma questão interessante que é o uso da tecnologia como forte instrumento da cultura e inclusão cidadã. Na busca de conhecimentos da cadeia produtiva do setor cultural, houve o debate sobre a economia da cultura em que o professor de economia da UFRGS Leandro Valiati destacou como ferramenta estratégica na atuação e no desenvolvimento, vendo a cultura como fonte de renda, diminuição do desemprego e construtora social.

A entrada de muitos novos pontos de cultura no nosso estado é algo que há de se reconhecer, diante de um processo em que vínhamos tendo nos últimos anos, com cortes e muito descaso com os resgates que os pontos e outras ações podem desenvolver conhecimento e transformações. Foi interessante ver que nosso estado foi contemplado com diferentes novos polos, com uma diversidade necessária.

Que venham boas novas a partir de então.
Que nosso Rio Grande do Sul tenha uma cara menos cinzenta,
mas mais viva, como sua história deve ser.

Um salve às manifestações culturais!

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