domingo, 26 de dezembro de 2010

“Eu duvido de quem sobreviva com um salário de 11 ou 12 mil reais”


Aumento forte e significativo no salário dos deputados, nos 45 do segundo tempo do ano, expressa um encerramento de 2010, no mínimo, decepcionante


A gente está acostumado a ver reivindicações de aumentos de salários nas taxas mensais com estimativas de 2%, 6% ou até uns 15% [quando muito] em contextos compreensíveis da ainda desigual realidade do nosso País.

Agora, imagine o aumento de 62% no bolso dos nossos queridos deputados, somando R$ 26.723,13. Muitos números, não? Cômico, pra não dizer trágico. Vergonhoso, pra não dizer traiçoeiro.

Sei que esse assunto está batido, indignante e até mesmo risível. O senso comum insiste em bater na tecla do: “nem é surpresa”, “político é tudo assim mesmo” e “nada vai mudar”. É verdade se pensarmos que até não seja de se surpreender em um País, onde o questionamento popular e a mentalidade crítica e ativa diante das decisões do Estado, ainda é muito inferior - comparados à grande massa social existente. Amanhã a maioria já esqueceu. Mas, honestamente... tem como não deixar de pensar que, a audácia constrangedora somada a petulância injusta e irresponsável dos nossos representantes que votaram a favor do próprio aumento exacerbado de seus bolsos, causa no mínimo, um transtorno difícil e, eu diria, impossível de ser compreensível na nossa cabeça?

O País onde o salário mínimo trabalhista dificilmente avança em termos significativos, é o mesmo País onde o operário faz das tripas, coração para pagar as contas do mês e se preocupar com tudo que um “cidadão comum” [que pelo visto, é bem diferente mesmo dos deputados, caro deputado Abelardo Camarinha] tem.

De fato, nós, cidadãos comuns, somos de uma realidade distante da de vocês, deputados. A maioria de nós não tem um plano de saúde para podermos tirar do nosso salário e pagar todo mês como segurança de uma vida mais cuidada. Nós contamos com o SUS que muitas vezes nos deixa na mão. A nossa diferença também é que nossos filhos estão nas escolas públicas e muitos deles, ainda se alimentam nas próprias escolas, pela dificuldade que o Brasil ainda tem nos altos índices com a fome - mesmo que sim, reconhecidamente têm sido diminuídos nos últimos anos. É verdade, senhor Camarinha, nós não viajamos toda hora, muitos de nós ainda não entramos em um avião. Raramente fazemos longas e luxuosas viagens nas nossas pequenas férias e não é nada fácil quando queremos visitar nossa família que mora em outra cidade, outro estado, outro país.

Nosso ano é tão corrido, deputados, que parece não dar conta da maioria dos nossos desejos de uma vida melhor. Nossos planos, sabem? Nesse ponto, somos parecidos com vocês. Nós também temos. Os sonhos que projetamos sozinhos ou com as pessoas que amamos. Nós também somos convidados para casamentos, formaturas e festas. A diferença é que “somos cidadãos comuns” com dificuldade bem superiores a de vocês, comparadas aos nossos baixos salários.


Para quem tem uma boa posição social,
falar de comida é coisa baixa.
É compreensível: eles já comeram. [Bertolt Brecht]

Abaixo, o pensamento do Plínio Arruda, que é semelhante ao meu, quanto à injustiça do processo político e a ausência do protesto, do questionamento e da militância – tão significativos – na vida social.


Para 2011, eu quero mais igualdade.

4 comentários:

Carlos disse...

belo texto, di! andam acontecendo protestos de estudantes e trabalhadores la em brasilia junto com abaixo assinado na net. MAS FALTA MT DE TODOS, TEMos q fazer nossa part,nao podemos calar, abraç.

Rafael C. disse...

vc é solidariedade, arte, poesia, música e melodia.

vc é coração e pensamento!

Anônimo disse...

amanha todo mundo ja esqueceu.

Ediane Oliveira disse...

Por isso que importa falar sobre isso, Anônimo. Se sempre pensarmos por esse lado 'indiferente' de que todo mundo vai esquecer no dia seguinte, cada vez mais teremos uma sociedade inativa, alienada e sem participação.